Em busca de um sonho: de Novo Airão, ator amazonense participa pela segunda vez de novela da Globo
Em nova novela, Eric Max contracena com Andrea Beltrão e Gabriel Leone.
21/07/2021 09:41
Por Eliena MonteiroDe Novo Airão para as telas da Rede Globo: o ator amazonense Eric Max, que participou da novela ‘Amor de Mãe’, agora vai aparecer na nova atração das ‘nove’, a novela ‘Um lugar Ao Sol’, de Lícia Manzo. Em entrevista exclusiva ao Portal Edilene Mafra, o novo-airãoense relembra o início da carreira no projeto ‘Jovem Cidadão’, a passagem pelo Liceu de Ofícios Claudio Santoro, e destaca o amor pelo Amazonas, especialmente por sua cidade natal.
Em ‘Um lugar Ao Sol’, novela dirigida por Maurício Farias, Eric fez uma participação especial. “Recebi a ligação da produtora de elenco Marcella Bérgamo Perroni, que é uma grande produtora de televisão. Ela me perguntou se eu estava disponível para realizar essa interpretação, e eu aceitei. Não estava nem esperando, porque nessa pandemia, com tanta notícia ruim, às vezes, a gente fica um pouco sem expectativa”, afirma.
Nas cenas que vão ao ar, o amazonense contracena com a atriz Andréa Beltrão e com o ator Gabriel Leone. “Foi uma troca muito especial poder atuar junto com os dois, que têm uma ampla experiência acumulada. Aprendi muito, principalmente com o olhar da Andrea, sua espontaneidade ao falar e a intensidade da energia com que ela atua. Foi realmente uma aula prática muito transformadora”, ressalta.
O ator adianta algumas informações sobre o personagem. “Posso dizer que ele é comunicativo, simpático, e trabalha como garçom num bar noturno onde toca música ao vivo”, descreve.
Uma curiosidade é que o personagem tem um muiraquitã, amuleto de uso pessoal do ator. “A diretora de caracterização viu no meu pescoço, gostou e deixou o personagem usá-lo depois de perguntar de onde era. Eu contei que comprei na FAM (Fundação Almerinda Malaquias), uma loja de artesanato de Novo Airão. Com certeza, é uma homenagem ao nosso Amazonas querido, especialmente às guerreiras amazônicas”, destaca.
As filmagens das cenas foram feitas no dia 9 deste mês de julho, nos Estúdios Globo – antes chamados de Projac (abreviatura de Projeto Jacarepaguá). De acordo com Eric, a emissora adotou uma série de medidas para realizar gravações na pandemia.
“A Rede Globo faz um trabalho bonito com a questão da segurança dos artistas, dos técnicos, de todos envolvidos no trabalho. A gente chega nos estúdios e, antes de qualquer coisa, vai para um laboratório fazer o teste de Covid. Se o resultado for negativo e estiver tudo certo, for não reagente, a gente vai para o camarim, coloca o figurino, faz a caracterização, coloca a maquiagem. Depois, vai para o set gravar”, explica.
‘Um lugar Ao Sol’ é uma novela inédita da Rede Globo e, segundo a colunista Patrícia Kogut tem previsão de estrear no horário das 21h, depois do fim da reprise de ‘Império’.
O convite para o novo trabalho veio após a participação de Eric em ‘Amor de Mãe’, seu primeiro contrato com a Globo. “‘Amor de Mãe’ foi filmada até novembro de 2020, e eu fiquei até o final filmando a novela, fazendo um personagem muito bonito, que era um ativista ambiental e aluno, personagem múltiplo”, ressalta.
Paixão pelo Amazonas
Eric se mostra apaixonado pelo Amazonas, principalmente por Novo Airão, cidade situada na Região Metropolitana de Manaus (RMM) e que desponta no turismo regional.
“Minha terra é tudo para mim. Minha família é muito especial e é uma grande incentivadora da minha carreira. Meu avô materno, Domingos Corrêa Sales, que faleceu em 2009, fundou junto com minha avó, que é conhecida na região como Mãe Rosa, a comunidade São Domingos, que fica no km 40 da estrada de Novo Airão, onde cresci e onde eles vivem até hoje. Foi lá que aprendi a trabalhar com amor, ter fé, humildade e valorizar minhas raízes”, relata.
Na infância, o artista desenvolveu atividades comuns às populações que moram no interior do Amazonas. “Eu, minha mãe e meus irmãos crescemos trabalhando com a terra, plantando roça e fazendo farinha nas férias da escola. Nossa vida era dividida entre a roça e a escola, mas isso só a durante a infância”, conta.
Aos 13 anos de idade, Eric mudou para Manaus, capital do Amazonas, para trabalhar com o que ele mais desejava, teatro e cinema. “E depois que o bicho da arte me acolheu, eu nunca mais fiz outra coisa”, afirma.
Como tudo começou
A carreira profissional de Eric Max começou em Manaus em 2011, pelo extinto ‘Jovem Cidadão’. O projeto, então realizado pelo Governo do Amazonas em escolas estaduais, levava atividades extras de cultura, lazer e esportes para os estudantes da rede pública.
Eric foi atraído pelas aulas de cinema oferecidas pelo ‘Jovem Cidadão’ na capital. “Falei com minha mãe sobre essa vontade, e nós nos mudamos para Manaus, onde ela alugou um quitinete [quarto] e conseguiu um trabalho de cozinheira no supermercado”, relembra.
Com recursos escassos, os dois mobiliaram o novo lar com objetos retirados do lixo. “Minha mãe saía do trabalho tarde e encontrava alguma coisa útil jogada no lixo – armário, cama, escrivaninha, mesa, até fogão – e corria para casa me chamando para irmos pegar”, conta.
Em Manaus, o novo-airãoense passou a estudar na Escola Estadual Júlio Cesar de Moraes Passos, uma unidade de ensino situada na Avenida Max Teixeira, Zona Norte. As aulas de cinema também ocorriam no colégio, no contraturno. “Foi lá [na escola] que eu fui apresentado à Sétima Arte e realizei meus primeiros curtas”, diz. Curtas-metragens são filmes de curta duração.
Após o primeiro contato com o cinema, o ator foi convidado a acompanhar a programação do 8º Amazonas Film Festival. “Foi o evento que me abriu a mente para compreender o potencial do cinema como ferramenta de transformação social, cultural e educacional, como bem representa o filme ‘Xingu’, exibido na abertura do festival”, afirma.
Eric continuou prestigiando as edições seguintes do festival, quando “uma mágica aconteceu”. “A linda voz da apresentadora que dizia algo assim antes da exibição do filme: ‘E agora fiquem com o coração aberto, e confortem-se em suas poltronas, porque o cinema mundial está nas telas do Amazonas’. Isso me deixou ainda mais apaixonado”, lembra.
Em uma das edições do Amazonas Film Festival, a atriz Bia Nunes sentou ao lado do amazonense. “Conversei com ela e expressei minha vontade em me desenvolver profissionalmente como artista do cinema, e ela me disse que estudando era o melhor caminho. Então, eu a perguntei onde ela tinha estudado, ela me escreveu o endereço de uma escola de teatro que ficava no Rio de Janeiro. Depois de concluir meu curso de teatro no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro em 2013, comecei a alimentar a ideia de ir para Rio estudar”, conta.
Em dezembro 2014, após uma viagem de 12 dias de carro, a mãe de Eric – Sirlene do Nascimento Sales, conhecida como Dominguinha – chegou à ‘cidade maravilhosa’. O ator estava contratado da Secretaria de Cultura do Amazonas (SEC-AM) realizando o espetáculo ‘Glorioso 2014 – Uma Clássica História de Natal’ e utilizou seu cachê para chegar ao Rio de janeiro no dia 19 de janeiro de 2015.
A mãe viajou antes para conseguir organizar a vida na cidade carioca. “Eu tinha 17 anos de idade. Terminei o terceiro ano do Ensino Médio numa escola estadual, e fui morar numa casa de atores em Curicica, ao lado do Projac. A partir daí muita coisa aconteceu”, resume.
Trabalhos atuais
Eric Max é ator, com formação profissional. Também estudou direção cinematográfica na Academia Internacional do Cinema no Rio de Janeiro e, agora, é dono da Borboleta Azul Filmes, uma produtora de Artes Integradas criada no Amazonas.
De acordo com o artista, a Borboleta Azul Filmes é focada em audiovisual. Em 2021, a produtora produziu dois projetos originais: o filme ‘Airão’ e o documentário ‘Cabocla Mariana’.
A produtora está se preparando para produzir seu próximo longa, com roteiro do escritor Luiz Roberto Paixão. Na obra, Eric atua ao lado do ator Rogério Expedito.
“A Borboleta Azul também produz teatro e instalação artística, que é uma arte que comecei a desenvolver desde 2018”, ressalta.
Hoje com 24 anos de idade, Eric realiza trabalhos no Rio de Janeiro, São Paulo e em Manaus, mas mantém suas raízes em Novo Airão. Grato à família, aos professores e ao Amazonas, o amazonense, que é vegano, fala do Estado com saudade. “Nossa culinária e a nossa cultura são muito ricas. Que vontade que me deu agora de comer um tucumã…hummm. Pena que o Ifood ainda não faz entregas interestaduais”, brinca.