Manaus, 19 de abril de 2024

Amazônia

Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação
Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação

Motivo de debates há mais de 10 anos, tombamento do Encontro das Águas em Manaus volta a ser discutido

Movimentos alertam sobre possível construção de um porto no local.

Da redação

Nesta semana, movimentos voltaram a debater sobre o tombamento do Encontro das Águas, no Amazonas. O assunto vendo sendo discutido há mais de dez anos. Além de apoiar o tombamento, os grupos alertam para os impactos ambientais da possível construção de um porto na região da Ponta das Lajes, em Manaus, perto do encontro dos rios.

No Amazonas, o Encontro das Águas é resultado da confluência dos rios Negro e Solimões. As águas dos dois rios – um de cor escura e outro de cor barrenta – não se misturam. O fenômeno natural atrai curiosos e turistas, que fazem passeios de barco até o local.

O encontro entre rios que não se misturam é registrado em outras partes da Amazônia. Em Santarém, no Pará, por exemplo, ocorre o Encontro das Águas dos rios Tapajós e Amazonas. O Governo do Pará reconheceu, pela Lei 8.062, de 30 de setembro de 2014, o fenômeno registrado em frente a Santarém como patrimônio cultural de natureza imaterial do Pará.

Encontro das Águas em Manaus. Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação

Discussão em Manaus

A homologação do tombamento do Encontro das Águas como patrimônio cultural e natural da Amazônia entrou na pauta de um webinar realizado na noite de quarta-feira (24/3), pelos movimentos Ficha Verde, SOS Encontro das Águas e Fórum das Águas.

No evento, houve debate sobre a possibilidade de construção de um porto de descarga no Encontro das Águas, em Manaus.

Participaram do debate o deputado federal e membro do Fórum das Águas, José Ricardo, o doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade CPDA/UFRRJ, André Bazzanella e a membro do SOS Encontro das Águas, Elisa Wandelli.

Encontro das Águas em Manaus. Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação

Luciana Valente, integrante do Ficha Verde, mediou o evento, que contou com a participação do poeta e músico, Celdo Braga. Ele declamou o poema ‘Encontro das Águas’, do escritor e poeta Quintino Cunha, que faleceu em 1943.

O deputado José Ricardo participa de mobilizações sobre o assunto há mais de dez anos, desde quando era vereador de Manaus. Ele afirmou que é a favor da construção de um porto em Manaus, desde que a estrutura não seja erguida na região do Encontro das Águas.

“Não tenho dúvida de que Manaus precisa de um novo porto, mas temos que trabalhar a preservação do Encontro das Águas e temos que continuar lutando pelo tombamento”, disse.

Na avaliação do parlamentar, a área deve ser explorada apenas pelo setor turístico, atraindo investimentos e apoiando economicamente os moradores da região.

“A defesa do tombamento do Encontro das Águas é uma pauta pela vida. Já houve uma grande mobilização sobre o assunto e também amplo estudo sobre as consequências e o impacto ambiental que podem gerar com a construção do porto na Ponta das Lajes, na região do Encontro das Águas. Muito foi falado, principalmente o setor empresarial falou sobre a necessidade de ter mais um porto em Manaus. Falaram que não vai gerar impacto e que vai atrair mais empregos para cidade. Mas, acredito que vários desses itens não foram comprovados”, destacou.

André Bazzanella, que participou do estudo técnico pelo tombamento, ressaltou que a região do Encontro das Águas possui valores agregados. São sítios arqueológicos e paleontológicos fundamentais para o entendimento da formação da Bacia Amazônica.

Segundo Bazzanella, o local é testemunho de um período histórico, referência ribeirinha com mais de 10 mil lendas na região e um ponto de encontro de várias culturas.

“O tombamento preserva a experiência humana em determinado território e tem uma série de outros valores agregados. É uma referência para o bioma amazônico e para o Norte. É uma síntese de tudo isso e com tudo o que se formou naquela região. Essa complexidade do Encontro das Águas faz com que ele seja único. É um conjunto complexo de bens e significados. Os navios parados em um porto no Encontro das Águas vão gerar consequências e uma série de danos”, alertou.

Encontro das Águas em Manaus. Foto: Aguilar Abecassis/Divulgação

Defensora do tombamento, Elisa Wandelli agradeceu aos que lutam pela homologação do tombamento há 11 anos. Ela também exaltou as riquezas naturais do local. “O Encontro das Águas é a nossa maior indústria, alimenta nossa indústria do turismo, tem muita biodiversidade da nossa fauna aquática e terrestre e é muito rico. Lá, tem símbolos rupestres de todos os povos da Amazônia, é um berçário da vida aquática, local que recebe aves migratórias, local de geologia única. Enfim, a diversidade é muito grande na região”, disse.

De acordo com Elisa, a construção do porto provocará um intenso fluxo de embarcações de grande porte, o que pode prejudicar o meio ambiente e as populações que vivem no local. “Por isso, defendemos um processo contínuo de sensibilização para que tenha a homologação do tombamento. Também precisamos de um plano de gestão de todos os órgãos envolvidos, com projetos de sustentabilidade, manejo de pesca, agroecologia e agroflorestal para as populações ribeirinhas. Precisamos de projetos soberanos que vão levar sustentabilidade para os povos da região. Propostas que trabalhem seu potencial local e a indústria do turismo.

Ela também pediu apoio dos parlamentares. “A água tem que ser para vida e não para a morte. Por isso, dizemos não à instalação de mais indústria e de um porto no Encontro das Águas. Temos que colocar essa luta numa escalada internacional, para que seja recuperado, preservado e para que as populações de lá tenham uma qualidade de vida”, disse.

A mediadora Luciana Valente relembrou a questão do conflito social e das ameaças que alguns moradores da região sofreram por defenderem o tombamento. Ela também falou sobre as ações que estão no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o tombamento.

Encontro das Águas em Manaus. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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