Manaus, 26 de abril de 2024

Literatura

Fotos: Divulgação
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Livro ‘Cidade Mítica’, de Bernadete Andrade, resgata história e ancestralidade de Manaus

Editora Valer lança a obra em live, neste sábado (21/8).

Da redação

A Editora Valer lança, na manhã deste sábado (21/8), o livro ‘Cidade Mítica – uma poética das ruínas ou a cidade vista pelo imaginário do artista’, da artista Bernadete de Andrade, já falecida. A obra é resultado da última pesquisa da autora. No livro, ela resgatou a história e a ancestralidade de Manaus. Além da riqueza de informações em texto, a publicação reúne fotos e outras ilustrações.

Bernadete de Andrade nasceu em 1953 e partiu em 2007. Foi artista, pintora, cenógrafa e professora.

A Valer afirma que ‘Cidade Mítica’ é um “deleite” para as novas gerações de manauaras. “Traz o mito, a realidade, a filosofia, a arte, a ciência e a poesia, sobretudo, na visão dessa grande artista amazonense, que a compôs”, destaca a Editora.

A live de lançamento contará com a participação de familiares e professores.

Bernadete de Andrade nasceu em 1953 e partiu em 2007. Foi artista, pintora, cenógrafa e professora. Fotos: Divulgação

Obra

De acordo com a Valer, ‘Cidade Mítica’ é uma obra-prima profunda. “A autora nos oferece uma aventura, nesta Manaus soterrada, que sobrevive debaixo dos nossos pés e que se encontra adormecida para a própria população. Ela apresenta uma outra arquitetura da cidade, nosso habitat, e a maneira pela qual podemos nos re-conhecer e reconectar com a nossa História”, ressalta a Editora.

No livro, a autora informa que a denominação mítica provém do sentido de ida e volta. “De retorno a algo que, como a imagem, contém a mobilidade do espírito e torna presente o que já foi”, afirma a Valer.

Ao todo, o ‘Cidade Mítica’ conta com quatro capítulos. Na obra, não se discute a cidade no seu aspecto urbanístico, mas, sim, no sentido mais próximo da Arte, porque ela passa a ser vista como um lugar para desenvolver a sensibilidade e a experiência humana.

No primeiro capítulo, a artista esclarece que o objetivo da pesquisa foi apresentar os dois modos de ser da cidade, o primeiro, o real e histórico, e o segundo, imaginário e mítico.

Já no segundo capítulo, ela tenta, por dados históricos, descobrir e compreender como se deu o processo de fundação da cidade, no limite com a tradição e a ruptura. Usou obras de Mário Ypiranga Monteiro, Eduardo Galvão, dentre outros. Ainda neste capítulo, ela discorre sobre o Calendário Astronômico dos Dessana, no qual, de forma detalhada, evidencia como se vive de acordo com os ritmos cósmicos.

Uma curiosidade, no livro, é que a autora usa obras do pintor William Turner como motivação estética. “Turner é conhecido autor de pinturas sobre o tema tempestade, cuja sutileza de um pincel nos envolve na atmosfera de imagens misteriosas e indefinidas”, informa Valer.

O terceiro capítulo reverencia a terra, a ‘Grande Mãe’, como guardiã das memórias de uma infinidade de povos que passaram pela Amazônia. “Ele é, segundo a autora, o coração da investigação, posto que descreve o caminho e a chegada à cidade mítica, batizada como Suanam, nossa outra face ausente, e que, lida de trás para a frente, volta a ser Manaus”, explica a Editora.

Neste capítulo, ela mescla o imaginário com dados recolhidos dos relatos de frei Gaspar de Carvajal, da primeira expedição exploratória do Rio Amazonas.

No quarto e último capítulo, a autora exibe um diário artístico, no qual consta um processo da pesquisa, rascunho, esboços, fotos, colagens e imagens que foram significativas na trajetória da ‘Cidade Mítica’. Os lugares por onde a artista passou reaparecem nesta seção, com fotos de intervenções artísticas.

A artista

Nascida em Barreirinha, no Amazonas, em 1953, Bernadete Andrade começou sua trajetória no Colégio Aparecida, em Manaus, onde cursou o ensino primário.

Ingressou na Escola Técnica Federal, onde teve o primeiro contato com a Arte, por intermédio do professor de desenho Moacir Andrade, no curso de Edificações.

Passou a estudar desenho artístico na Pinacoteca de Manaus (Biblioteca Pública) com os mestres Álvaro Páscoa e Manoel Borges.

Estudou desenho e pintura, na Pinacoteca do Estado do Amazonas, e pintura e paisagismo, no Núcleo Companheiros da América, entre 1973 e 1974. Em 1982, concluiu o curso de Filosofia da então Universidade do Amazonas (UA). No mesmo ano, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a fazer um curso sobre a cor, com Abelardo Zaluar, no MAM/RJ, e a estudar gravura em metal e monotipia, no ateliê do Sesc Tijuca.

Ingressou na Escola de Belas Artes da UFRJ, e, em 1984, ganhou, da Universidade do Amazonas (UA), uma bolsa de estudos para dar continuidade aos seus estudos no Rio de Janeiro. Além de pintar, criou cenários para espetáculos, bem como bonecos para teatro.

Em 1988, ingressou na Universidade do Amazonas (UA) como professora de Artes do curso de Educação Artística. Foi integrante da geração de artistas amazonenses surgida na década de 1980. Em 2004, assumiu a superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O trabalho de Bernadete sempre foi voltado para a Amazônia. Era uma artista que valorizava a região.

Não à toa, em 2004, ela assumiu a superintendência regional do Iphan. Na instituição, implementou o programa Brasil Patrimônio Cultural, que fez o levantamento de sítios e coleções arqueológicas no Médio Amazonas.

“Todo esse conhecimento fez com que esta sua obra póstuma, a cada novo capítulo, fosse feita como uma escavação arqueológica”, enfatiza a Editora Valer.

A artista inovou quanto à forma de criar. Desenvolveu técnicas de misturar cores com diferentes argilas encontradas na estrada AM-010. O resultado disso são combinações únicas, vistas exclusivamente em suas obras, e que carregam em si uma matéria-prima exclusivamente amazônica.

“A metodologia adotada na pesquisa, que hoje se tornou livro, funda-se no caminho vertical entre os procedimentos teóricos e práticos, como o levantamento bibliográfico e as pesquisas em arquivos e instituições que preservam a memória ancestral da cidade, além de visitas a sítios arqueológicos, cemitérios indígenas, e, ainda, na comunidade Umbucyn (em tupi, significa ‘beija-flor’), no município de Rio Preto da Eva”.

Em suas telas, a artista resgata a história soterrada dos povos tradicionais da Amazônia. Ainda nesta obra, ela apresenta um profundo conhecimento do grafismo indígena, pintura e desenho étnico, para o qual desempenhou a pesquisa de campo na comunidade supracitada, composta por cinco etnias: Sateré, Mura, Tukano, Dessana e Baniwa.

Bernadete trabalhou com autores, intelectuais e líderes indígenas, como Davi Kopenawa Yanomami, Ailton Krenak, Tolomãn Kenhíri, Umúsin Kumu, Kaka Wera Jecupé e Feliciano Lana, que a auxiliaram na compreensão do mito e no sentido da tradição. “São pensamentos de força e beleza poética que nos ensinam a experiência profunda de ser e estar no mundo”, declarou a autora.

Live de lançamento

O evento de lançamento vai contar com uma live. A transmissão será realizada a partir das 10h, pelo Facebook da Editora Valer.

A live contará com a participação de Gabriel de Andrade, filho da artista e mestre em comunicação pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam); da professora Magela Andrade, irmã de Bernadete; do escritor João Paes Loureiro; da escritora Priscila Pinto; da professora Socorro Jatobá; da escritora Lúcia Rocha e da jornalista Mirna Feitoza.

A coordenadora editorial da Editora Valer, Neiza Teixeira, que é doutora em Filosofia, vai mediar o bate-papo.

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