Manaus, 28 de março de 2024

Literatura

Foto: Governo do Pará
Foto: Governo do Pará Foto: Governo do Pará

Atlas do IBGE retrata costa brasileira pela literatura do Rio Grande do Sul a Belém

Publicação reúne trechos de romances, entre outros recursos visuais.

Com informações da Agência Brasil

Como a arte e a geografia se unem para expressar a realidade e recontar a história do país? A partir dessa pergunta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou nessa sexta-feira (25/6) mais um volume da coleção Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras. Desta vez, a parte retratada é a Costa Brasileira, a maior extensão territorial até o momento, abrangendo do Rio Grande à foz do Rio Amazonas, em Belém, no Pará.

Nos volumes anteriores, o atlas retratou, pelas lentes literárias, o Brasil Meridional (2006) e os Sertões Brasileiros I e II (2009 e 2016).

A publicação reúne trechos e análises de romances selecionados, fotos, pinturas, imagens de satélite e mapas, para compor os cenários de regiões brasileiras que marcaram a trama de grandes obras da literatura nacional, bem como contar a história da tomada do território que hoje conhecemos como Brasil.

De acordo com a geógrafa que coordena o projeto, Maria Lúcia Vilarinho, o levantamento mapeia as regiões que se formaram no processo de ocupação europeia do território nacional, com o objetivo de estimular o uso do discurso ficcional na compreensão e representação dos fenômenos socioespaciais, em especial, nos processos de ensino e aprendizagem.

O volume Costa Brasileira destaca as paisagens que vão do Rio Grande do Sul até Belém. Foto: Governo do Pará

“A arte é uma forma de conhecer o mundo e se conhecer no mundo. No caso do Atlas, a gente lança mão do romance como forma de apreender a realidade”, diz a geógrafa, destacando a importância da costa na formação do Brasil e início da ocupação do território, bem como local que concentra até hoje importantes metrópoles. “O oceano é o contato entre o novo e o velho mundo. Esta é uma outra forma de o IBGE cumprir a sua função de representar o território, lançando mão de sua literatura”.

Vilarinho lembra do impacto que o sequestro das populações africanas teve para a formação do Brasil, desembarcadas na costa do país, com relatos presentes em diversos romances, bem como a participação dos povos originários da terra.

“É importante dizer que o livro não é exaustivo no sentido de abordar toda a extensão da Costa brasileira, porque é impossível. E não é exaustivo em relação aos romances, porque é impossível citar toda a produção literária sobre determinadas regiões”, afirma. “Temos um volume bem diversificado, com escritores e obras nacionais muito importantes para se entender o processo de ocupação do território.”

Os pontos retratados foram selecionados de acordo com o interesse estratégico da coroa portuguesa, pontos de interiorização e busca por riquezas e articulação de rotas de navegação no Atlântico Sul. Já as obras literárias, a maioria representa o tempo vivido pelo autor, não trazendo obrigatoriamente uma descrição física das localidades. “Não se trata de uma descrição física da cidade, não é essa a proposta editorial do Atlas. É a visibilidade do processo de ocupação das regiões”, afirma a geógrafa.

Literatura

O volume Costa Brasileira destaca as paisagens que vão do Rio Grande do Sul até Belém, passando por Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Olinda e Recife e a Costa dos engenhos. Os passeios são conduzidos por grandes autores de ontem e de hoje, como Eliana Alves Cruz, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Dalcídio Jurandir, Ana Miranda, José Lins do Rego, José Cândido de Carvalho, Assis Brasil, Maria Firmina e Lima Barreto.

Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis não poderia ficar de fora e teve o lançamento da obra coincidindo com o mês de seu 182º aniversário. A coordenadora do projeto destaca que os romances do escritor realista retratam a sociedade brasileira a partir do centro político do país na virada do século 19 para o 20.

“No caso do Machado, ele tem uma sequência humana com o Brás Cubas, Quincas Borba, são romances que permitem a gente ter essa visão da capital do império e depois da república, primeiro como escravocrata e depois como abolicionista, no centro político do país. É uma obra que permite entender o Brasil, não só o Rio de Janeiro. Machado discute de fato o que é a sociedade brasileira, não de uma forma aberta e direta. Ele é irônico, usa metáforas o tempo todo.”

Os quatro volumes da coleção Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras estão disponíveis para download na biblioteca do IBGE. O instituto pretende lançar um quinto volume da coleção, sobre a Amazônia, ainda sem data prevista.

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