Manaus, 29 de março de 2024

MEMÓRIAS

Foto: Walter Barbosa/Concultura
Foto: Walter Barbosa/Concultura Foto: Walter Barbosa/Concultura

Centro Histórico de Manaus abrigará memorial em homenagem aos povos indígenas

Espaço receberá visitação e cerimônias religiosas das etnias.

Da redação

A Praça Dom Pedro II, no Centro Histórico da capital do Amazonas, abrigará o Memorial Necrópole de Manaus, em homenagem aos povos indígenas. Segundo a Prefeitura de Manaus, povos ancestrais estão sepultados na praça.

O Município informou que o projeto atende a uma antiga reivindicação de indígenas, de diferentes etnias, que acompanham as pesquisas arqueológicas na área.

Nesta quarta-feira (24/2), foi criado um grupo de trabalho com representantes da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Conselho Municipal de Cultura (Concultura) e indígenas. A equipe terá a missão de elaborar o projeto de fundação do Memorial no perímetro da praça.

Pela tarde, o prefeito David Almeida esteve na praça Dom Pedro II e conheceu o projeto. “Um memorial em respeito à importância dos povos indígenas e tradicionais que povoaram a cidade e iniciaram nossa trajetória. Toda a população de Manaus precisa visitar esse local para conhecer nossa origem, nossa história e defendê-la”, disse.

Praça Dom Pedro II abrigará o Memorial Necrópole de Manaus. Foto: Walter Barbosa/Concultura

De acordo com o diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, a gestão vai priorizar projetos que envolvem a memória de Manaus. “A população local e mundial precisa ter o conhecimento e consciência do valor cultural e espiritual desse local, onde foi fundada nossa metrópole amazônica”, ressaltou.

Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), João Paulo Barreto Tukano integra o grupo de trabalho. Ele é um dos representantes do movimento indígena e da academia que reivindicam o reconhecimento da área como sagrada, uma necrópole histórica.

“Nesse momento, estamos reunidos em cima de um grande cemitério indígena, de nossos antepassados, e precisamos ter o devido respeito aos nossos povos originais que merecem o resgate da memória e importância histórica pelo que significam no nosso processo civilizatório”, disse.

Convocado pelo presidente do Concultura, Tenório Telles, o grupo de trabalho também conta com membros do Centro de Arqueologia de Manaus (CAM) e da associação indígena Yepemahafa dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro.

“Uma sociedade que não valoriza sua memória é uma sociedade que cai no esquecimento e na ignorância. Daí ser esse um dos fundamentos do Conselho de Cultura, em parceria com a Manauscult”, afirmou Telles.

Grupo de trabalho foi criado nesta quarta. Foto: Walter Barbosa/Concultura

Projeto Necrópole

O Memorial Necrópole de Manaus será um marco do início do processo civilizatório da cidade de Manaus. O local guarda vestígios do cemitério indígena, que data de mais de 3 mil anos.

O espaço terá uma placa e monumento indicando o local para a visitação pública e realização de cerimônias religiosas das etnias que habitam o Amazonas.

Um projeto de lei criando o memorial será encaminhado à Câmara Municipal de Manaus (CMM), para aprovação dos vereadores. Se aprovado, o local será inaugurado no dia 19 de abril, quando se celebra o Dia do Índio.

O memorial é resultado de pesquisas arqueológicas, que datam desde registros de 1860, com a pintura de uma urna funerária feita pelo naturalista francês Paul Marcoy, em Manaus. Já na década de 1950, foram iniciadas pesquisas com o arqueólogo alemão Peter Paul Hilbert.

A confirmação do sítio indígena veio no início da década de 1960, quando Hilbert e o historiador Mário Ypiranga Monteiro resgataram uma urna entre a praça e o edifício do Iapetec. Em 2002, na obra de reforma da praça Dom Pedro II, com as escavações arqueológicas lideradas pelo arqueólogo Eduardo Neves, da Universidade Federal de São Paulo (USP), foram encontradas mais de 300 urnas funerárias.

No Centro de Manaus também foram encontrados vestígios arqueológicos na Igreja da Matriz, na Avenida Eduardo Ribeiro e na Praça Adalberto Valle, mas essas áreas não foram cadastradas como sítio.

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