Os artistas Duhigó e Rember iniciaram as pinturas nos edifícios Mônaco e Monte Carlo, no Centro de Manaus, nessa quarta-feira, 7 de agosto de 2024. As obras nas empenas dos edifícios fazem parte do ‘Circuito Urbano de Arte Amazônica 2024’ – Cura Amazônica.
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CURA AMAZÔNIA
A 2ª edição do Cura Amazônia convoca a capital do Amazonas para viver, ao longo de 11 dias, mais uma transformação inspiradora da paisagem.
Uma das principais metas do evento é construir a maior coleção de arte mural indígena do Brasil, e a única a ser composta somente de indígenas amazônicos, buscando fomentar e dar maior visibilidade aos talentos da Amazônia.
PINTURAS NOS EDIFICÍOS DE MANAUS
EDIFÍCIO MÔNACO
A responsável pela empena do edifício Mônaco, é da artista indígena Duhigó, aldeia Paricachoeira, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
Duhigó, é filha de pai Tukano e mãe Dessana. Em Manaus desde 1995, Duhigó concluiu o curso de Pintura na Escola de Arte do Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia.
Em 2005, ela se tornou a primeira indígena da etnia Tukano a se profissionalizar nas artes visuais. De lá para cá, em suas obras, ela busca expressar a memória do seu povo e seus ancestrais para que a cultura Tukano não desapareça.
Já em 2018, ela se tornou a primeira artista Tukano a participar da Bienal Naifs do Brasil, a mais importante da América Latina, onde também expôs seu trabalho no ano de 2020. Em 2019 e 2020, ela também participou da exposição itinerante ‘VaiVém’, que circulou pelo Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal. Com a obra ‘Nepũ Arquepũ’ (‘Rede Macaco’, na língua Tukano), ela narra uma cena da sua infância que ficou guardada na memória: o ritual de nascimento de um bebê Tukano.
A obra foi adquirida por colecionadores, que a doaram para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp. Assim, ela se torna a primeira mulher indígena amazonense a integrar o acervo do mais importante museu da América Latina e do Hemisfério Sul. Em 2022, Duhigó entra para o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, com a obra ‘Máscara de Ritual I’, e em 2024, participa no Pavilhão da Bolívia na Bienal de Veneza, o mais tradicional e importante evento de artes visuais do mundo.
Quando perguntada sobre o poder da sua arte, ela se volta aos ancestrais. “Na minha vida, busquei, por meio do meu espírito, lembranças dos antepassados. E o que peço é força para que possa trazer coisas boas para a nova geração. Minha arte é um canal pra mostrar minha mente espiritual, dos meus antepassados”, comenta ela.
EDIFÍCIO MONTE CARLO
O responsável pela empena do edifício Monte Carlo, Rember Yahuarcani nasceu em Pebas, um distrito de Loreto, no Peru.
Desde 2003, ele exibe individual e coletivamente em museus e galerias de arte na América Latina, América do Norte, Europa e Ásia e, em 2024, compôs a Bienal de Veneza, além de atuar como curador.
Ao chegar nesses espaços, potencializada por um movimento, uma corrente global de artistas, produtores, curadores e pensadores, a arte indígena tem sido uma poderosa ferramenta coletiva que propõe novos parâmetros para revisitar os cânones e possibilitando uma reflexão a respeito do que tem sido os últimos séculos de apropriação das estéticas, mitos, conhecimentos e medicinas.
Rember se junta a corrente e faz da arte indígena seu espaço de autorrepresentação, o primeiro espaço, segundo ele, em que foi permitido aos indígenas falar em primeira pessoa. O artista acredita que a arte, em especial, a pintura, permite a transmissão da voz dos ancestrais, em cada palavra, gesto e traço. Em sua obra, são os antepassados que falam em primeira pessoa. “Não há como convidar ao estético se não se fala de materiais e poderes invisíveis porque a arte indígena transporta o conhecimento dos nossos ancestrais”, conta.
Artista autodidata, Rember nasceu em família de artistas, carrega a técnica e as cosmovisões de seus antepassados. É na cosmologia Uitoto que ele encontra inspiração, principalmente nas cosmologias relacionadas ao clã Aymenú, ao qual pertence. “Minha obra é tudo o que vejo na floresta”. Em suas telas, está expressa a visão que oferece a floresta, seus mitos e histórias, onde se encontram todas as respostas. São conhecimentos vivos e em constante transformação, em que não se separa o material e o imaterial, o visível e o invisível.