Manaus, 25 de abril de 2024

Entrevistas

Foto: Bruno Lopes/PEM
Foto: Bruno Lopes/PEM Foto: Bruno Lopes/PEM

André Zogahib chega à reitoria da UEA com sonho de trazer Teatro, reestruturação e concurso

Novo reitor concedeu entrevista ao Portal Edilene Mafra.

Por Edilene Mafra e Eliena Monteiro

O novo reitor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), André Zogahib, recebeu o Portal Edilene Mafra para uma entrevista exclusiva. Eleito para comandar a instituição no período de até 2026, ele falou sobre reestruturação, concurso público e o sonho de ter um Teatro dentro da universidade.

Zogahib, que tem Kátia Couceiro como vice-reitora, também destacou o papel das mulheres na UEA. O reitor falou, ainda, dos impactos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o orçamento da instituição.

Confira a entrevista que o reitor concedeu à jornalista Edilene Mafra:

Foto: Bruno Lopes/PEM

Hoje qual é orçamento anual da UEA? Com esse recurso é possível manter as atividades essenciais de todas as unidades?

Hoje a situação é bem complicada. O orçamento da universidade gira em torno de R$ 500 milhões. Aproximadamente 1% do faturamento do PIB [Produto Interno Bruto] vem para a universidade para que nós mantenhamos.

Esse recurso não é significativamente valoroso para que a gente faça todos os investimentos necessários para fazer a estruturação física e laboratorial de maneira adequada e, ainda por cima pagar aquilo que a gente está pretendendo dentro do nosso plano de cargos, carreiras e remuneração.

De todo modo, a gente está sofrendo um ataque muito grande à Zona Franca e isso, evidentemente, tem uma ligação muito próxima com a universidade, que ainda tem 1% do faturamento do PIB destinado para sua manutenção.

Hoje, a grande ação que a universidade tem que fazer é mobilizar a sociedade dentro desse processo para gente mostrar para o Brasil a importância da Zona Franca de Manaus para o desenvolvimento da região amazônica, não só de Manaus, mas também do interior.

A UEA, com o uso de seu orçamento, leva conhecimento ao interior e ajuda no desenvolvimento. A gente precisa fortalecer esse modelo, para que possa começar a trabalhar com outros modelos.

Hoje, nós não temos como sair do modelo Zona Franca de Manaus sem que nós não tenhamos um prejuízo enorme na economia, na vida das pessoas e também na universidade.

Fora isso, nós temos que captar recursos de outras naturezas e de outras fontes tributárias, dialogar com as prefeituras, com o governo federal, com o Ministério da Fazenda. Além disso, nós temos que estruturar melhor a universidade para captar recurso de P&D.

Foto: Bruno Lopes/PEM

Pontualmente, a UEA já tem alguma ação ou reunião com os nossos representantes da bancada federal para tratar da questão do IPI?

Nós estamos conversando de maneira muito aproximada com o Governo do Amazonas, com diversos jurídicos que estão se unindo em prol desse processo.

Sempre digo que a classe política precisa se unir. Independente de bandeira partidária, da ideologia, nós temos uma causa em comum chamada ‘Zona Franca de Manaus’. Se nós deixarmos esses ataques passarem, todos serão prejudicados.

“Independente de bandeira partidária, da ideologia, nós temos uma causa em comum chamada Zona Franca de Manaus”

Eu vejo que a bancada amazonense precisa se unir – depurados federais, senadores, deputados estaduais, os vereadores da capital e do interior – todos em prol da causa. A gente tem fomentado esse tipo de iniciativa para que os nossos políticos se sensibilizem ainda mais com a causa e possam agir de maneira coletiva.

Quais são as prioridades para a expansão do capital intelectual e geração de novas tecnologias?

Nós temos que desenvolver pesquisa por meio de laboratórios bem estruturados, de grupos de pesquisas bem estruturados. Essas pesquisas vão gerar produtos que podem ser absorvidos pela sociedade. Isso vai gerar marcas, patentes e trazer royalties para o Estado, para a universidade, para o país.

A partir daí, a gente tenta quebrar, de maneira metafórica, os muros da universidade pra que isso, de fato, possa chegar à sociedade; pra que a sociedade possa enxergar o que a gente produz aqui na academia.

De forma prática, como fazer isso? Quais seriam os primeiros passos?

Inicialmente, a gente precisa cuidar dos projetos, sair um pouco dessa visão estratégica e descer no nível tático e operacional, para começar a cuidar de questões que facilitem o desenvolvimento dessas ações de pesquisa e extensão. A gente precisa dar subsídios necessários para que essas ações possam acontecer na universidade.

Hoje, é preciso reformular procedimentos administrativos de maneira muito rápida. Nós precisamos reorganizar uma série de procedimentos internos; investir em infraestrutura predial e laboratorial. A gente vai começar a focar nisso.

E nós precisamos ter pessoas qualificadas e motivadas para trabalhar. Nós vamos começar a trabalhar com questões relativas ao salário, aos pagamentos e ao plano de cargos.

Foto: Bruno Lopes/PEM

O senhor tem uma mulher na vice-reitoria. Como será a participação da professora Kátia Couceiro na sua gestão?

As mulheres são tão ou até mais capazes do que nós homens para tomar determinadas decisões. Então, contar com a professora Kátia dentro desse processo é contar com uma mulher que tem uma capacidade enorme; é uma pessoa muito sensível, família, inteligente.

O olhar da professora Kátia vai ser sempre levado em consideração. Ela sempre vai decidir as coisas conosco, para que nós possamos ser sempre assertivos, eficazes, eficientes e inclusivos.

“Hoje, nosso contingente de mulheres é de aproximadamente 52%. É um quantitativo grande, superior, evidentemente, ao quantitativo de homens. E a mulher precisa ter o seu local de destaque na universidade, na sociedade”

Eu acho que a gente tem que trabalhar sob os diversos aspectos. E não estou falando apenas de diversidade de gênero, mas de todos os aspectos. Eu e a professora Kátia vamos trabalhar juntos dentro dessa pluralidade, conversão de ideias para que nós consigamos sempre fazer uma boa síntese dentro de um diálogo satisfatório.

Hoje, nosso contingente de mulheres é de aproximadamente 52%. É um quantitativo grande, superior, evidentemente, ao quantitativo de homens. E a mulher precisa ter o seu local de destaque na universidade, na sociedade.

Eu sou um defensor muito aguerrido disso. Eu falo isso muito com a minha esposa, com as minhas filhas de que não tem diferença. A mulher tem que ocupar o lugar que lhe compete, pelo seu conhecimento, pela sua trajetória, pelos seus méritos; ela não pode ser diminuída por ser mulher. Quando criamos os nossos filhos dessa forma, a gente vai ter uma sociedade muito mais justa.

No seu plano de gestão, está prevista a expansão da universidade?

A ideia é que nós consigamos sim expandir, mas, no primeiro momento, a gente tem que fortalecer aquilo que já existe. Em diversas situações, a gente tem estruturas precárias e precisamos, justamente, das condições necessárias para que elas funcionem de maneira eficaz no interior.

A gente precisa, no primeiro momento, fortalecer as estruturas que existem, dar essa qualidade para que esse ciclo virtuoso possa funcionar de maneira adequada. A partir daí, a gente vai expandir e crescendo com qualidade.

Hoje, a UEA está presente nos 61 municípios e na capital, sendo que na capital, nós temos seis escolas: Escola Direito, Escola de Ciências Sociais Aplicadas, Escola de Ciências da Saúde, Escola de Educação que é Escola Normal Superior, Escola de Artes e Turismo e a Escola Superior de Tecnologia.

Nos municípios, nós temos seis centros, dos quais dois têm tamanho de núcleo, ou seja, são pequenos: o Centro de Lábrea e o Centro de São Gabriel da Cachoeira. São centros nos nomes, mas a estrutura é de núcleo. E nós temos quatro centros funcionando em Parintins, Itacoatiara, Tefé e Tabatinga.

Além desses seis, nós temos outros 18 núcleos funcionando no interior. Essa é a estrutura da Universidade do Estado do Amazonas, em que nós não temos estrutura própria, nós funcionamos com parcerias com as secretarias de educação dos Municípios e Secretaria de Educação do Estado.

Nós precisamos expandir. Sabemos da necessidade de levar diversos cursos para o interior, mas a gente precisa levar cursos bem estruturados.

Hoje, enquanto estrutura do executivo, a prioridade é criar mais possibilidades de emprego, levar mais empresas, mais indústrias para o interior, justamente, para absorver a mão de obra que a gente forma.

A gente tem que fazer isso de maneira muito alinhada, muito bem desenhada, muito bem costurada. Para que isso aconteça, a UEA também precisa formar dentro das áreas que essas organizações vão absorver.

Por isso, nós temos os nossos ‘cursos especiais’ na universidade. São cursos que eu caracterizo como temporários. Eles abrem uma turma no município; funciona naquele município durante a execução do curso; aquela turma encerra a formatura e no outro vestibular ou durante outros processos de seleção, o curso vai funcionar em outros municípios, justamente para que não tenha essa grande concentração de formados sem oportunidade de trabalho.

Foto: Bruno Lopes/PEM

Turismo é um dos focos das matérias do Portal Edilene Mafra. Sobre esse assunto, quais ações o senhor pretende promover para o desenvolvimento profissional dessa área para inserção dos egressos da UEA no mercado?

Nós temos um grande potencial turístico que precisa ser explorado. Ponto. A universidade pode ser um elo de pensar, de desenvolver políticas públicas, de conceber uma agenda e que nós tenhamos isso amplamente estruturado, pensado cientificamente e aplicado por meio do Estado.

A UEA tem pessoas, modéstia à parte falando, por que modéstia à parte? Eu tenho um carinho muito grande pelo curso de Turismo aqui da nossa universidade, porque tem pessoas extremamente qualificadas, que têm reconhecimento inclusive em âmbito nacional.

Precisamos utilizar o conhecimento dessas pessoas para desenvolvamos um grande Núcleo de Desenvolvimento Turístico.

Nós precisamos trabalhar com esses professores e com os alunos do curso para que a gente possa explorar estes potenciais de uma maneira sustentável e que isso traga um desenvolvimento econômico para nossa região.

A gente precisa de um movimento que faça esse sincronismo, que coloque esses atores para dialogar.

Como a Escola de Artes vai trabalhar para que a cultura produzida na UEA se aproximem mais da sociedade?

A universidade precisa expandir, primeiro, os mecanismos de extensão. Hoje, nós não temos um teatro da universidade para que a gente possa acompanhar um calendário de apresentações. Em 20 anos, a gente não tem um auditório em nível de teatro.

Mas, os cursos das Artes não focam só na apresentação. Atrás de tudo isso tem pesquisa. A universidade tem uma uma base sólida para o entendimento das Artes também como ciência”

A gente tem pessoas tão talentosas aqui, que vocês não têm ideia. E a gente não consegue mostrar. Então, hoje, eu preciso criar os espaços para que as pessoas mostrem o seu talento.

Mas, os cursos das Artes não focam só na apresentação. Atrás de tudo isso tem pesquisa. A universidade tem uma uma base sólida para o entendimento das Artes também como ciência.

Na sua posse, o tema ‘concurso público’ também entrou na pauta. Como está sendo preparado esse concurso?

Nossa equipe está fazendo um levantamento das necessidades. Tem cargo, inclusive, que nem tem na nossa lei e que a gente vai precisar criar. A universidade tem a Lei Delegada 114/2007, que foi reformulada em 2010. De lá para cá, a lei não passou por alterações. Em 12 anos, essa estrutura da universidade é a mesma.

A estrutura que universidade precisava para funcionar há 12 anos não é a mesma de hoje. A universidade cresceu, se expandiu e hoje nós precisamos, por exemplo, de técnico de laboratório para trabalhar no biotério, nós precisamos de técnico de laboratório para trabalhar nos cursos de engenharia, precisamos de engenheiros, precisamos de professores nas mais diversas áreas.

“Hoje, a gente está planejando a necessidade de vaga, para que o concurso possa ser realizado em 2023”

Eu acredito que, até o fim do ano, nós temos esses números bem consolidados. A partir desse levantamento, nós vamos trabalhar de comum acordo com Poder Executivo para que nós tenhamos a reestruturação desta Lei Delegada 114. A partir daí, nós conseguimos fazer o nosso concurso.

Hoje, a gente está planejando a necessidade de vaga, para que o concurso possa ser realizado em 2023.

Até lá, a gente tem certeza que vai ter muito contato para passar as informações sempre de maneira precisa, para que a sociedade amazonense se prepare e as pessoas que tenham interesse possam vir trabalhar conosco aqui na Universidade do Estado do Amazonas.

Foto: Bruno Lopes/PEM

André Zogahib – reitor da UEA

Professor-doutor, André Luiz Nunes Zogahib é graduado em Administração de Empresas, Administração Pública e Direito. Possui especialização, mestrado e doutorado em Administração Pública. É professor do quadro efetivo da UEA. Foi coordenador de cursos de graduação, especialização e mestrado, coordenador dos sistemas de ingresso, pró-reitor de Planejamento e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários.

Participou da elaboração e implementação do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) na condição de docente. Em 2010, como pró-reitor de Planejamento, atuou na reestruturação organizacional da UEA.

Gestor experiente, atuou como diretor-presidente da Amazonprev, conquistando, por três anos seguidos, o prêmio de melhor Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) do Brasil, entre todos os estados da federação e Distrito Federal. A Amazonprev tornou-se referência nacional em gestão previdenciária, em diversas avaliações, como as da Abipem, Aneprem e da Secretaria Nacional de Previdência.

No final da entrevista, Zogahib também falou das habilidades pessoais do André. “Eu sinto muito orgulho de todo mundo dizer que sou multitarefa. Eu desenho e pinto desde criança. Eu sou um cara esportista. Sou faixa preta de jiu-jitsu segundo grau. Jogo futebol e tênis. Gosto de escrever, tanto é que tenho muitos artigos publicados. Sou músico, gosto de tocar meus instrumentos musicais: bateria, teclado, piano e violão”, disse o gestor, que também já teve uma banda formada por amigos.

No a dia a dia, a música é uma forma de relaxar e recuperar as energias. “Chego em casa, às vezes cansado, pego o violão, vou para o piano, para o teclado”, contou.

Com muitas habilidades, André ainda pensa em aprender mais. “Eu acho que nos distancia de algum conhecimento é a falta do conhecimento, ou seja, eu preciso me debruçar sobre diversos aspectos, que eu vou aprender. A nossa limitação, geralmente é construída por nós mesmos”, finalizou.

Foto: Bruno Lopes/PEM

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