Manaus, 19 de abril de 2024

Teatro

Conheça Valderes Souza, o artista amazonense que transita do circo ao cinema

Como ator, Valderes participou da série ‘Aruanas’, da Rede Globo.

Por Sabrina Rocha

Com mais de 30 anos de carreira, o artista amazonense Valderes Souza, de 53 anos, transita em diferentes segmentos da cultura. Atua nos bastidores de espetáculos, é diretor de teatro e cinema e passeia no meio circense. Como ator, participou da série ‘Aruanas’, da Rede Globo, depois de ter sido aprovado em uma seleção. Em entrevista ao Portal Edilene Mafra, ele destaca trabalhos já realizados e fala sobre os novos projetos.

Valderes começou a carreira no início dos anos 1990 e, desde então, tem se mantido ativo no cenário artístico amazonense. O ator carrega no currículo uma numerosa quantidade de trabalhos artísticos.

Já exerceu a função de ator em produções teatrais e cinematográficas. Foi dramaturgo, diretor, e instrutor teatral.

Valderes também trabalha com arte circense e já atuou em radionovelas para propagandas institucionais. Também foi jurado de carnaval e escreveu um livro sobre o Santo Antônio, bairro da Zona Sul de Manaus onde nasceu e vive até hoje.

Ator transita em diferentes segmentos da arte. Foto: Arquivo Pessoal

Dos bastidores para os palcos

Natural de Manaus, Valderes Souza teve o primeiro contato com o teatro na Paróquia de Santo Antônio, igreja situada no bairro de mesmo nome, Zona Sul de Manaus. No local, ele fez parte do Grupo de Teatro Cristão (Grutec) e estreou no espetáculo ‘Vida e Morte – Paixão de Cristo’, em que interpretou João Batista.

O interesse inicial estava nos bastidores, mas o artista acabou desenvolvendo outras funções dentro do teatro. Ele lembra como surgiu a oportunidade de atuar pela primeira vez.

“Eu gostava muito dos bastidores, a parte de cenografia mesmo. Mas em Manaus, como nós praticávamos um teatro amador, além de atuar como cenógrafo, era necessário também ser ator e compor o elenco da peça. Então, começou assim meu gosto pela arte”, conta.

Valderes permaneceu na Grutec por 20 anos, mas em paralelo também exercia a profissão de ator em outras companhias. Por volta de 2003, se tornou integrante da Cia de Teatro Téspis, criada pela diretora Jordânia Damasceno.

No ano de 2005, o artista sentiu a necessidade de criar a própria companhia, e assim, surgiu a ‘TArt. com’, que faz parte da Federação de Teatro do Amazonas (Fetam). “Com a companhia TArt.com federalizada, nós fizemos parte de vários movimentos de luta, como a participação na implantação do curso de Teatro na Universidade Estadual do Amazonas (UEA)”, cita.

Entre as peças que produziu e participou estão as obras: ‘O fantasma para sua majestade’, ‘Quem foi ao vento perdeu o acento’ e ‘História do Zap’. No currículo também estão as peças que eram realizadas dentro da comunidade de Santo Antônio, pela quais Valderes diz ter verdadeira paixão.

A primeira apresentação no palco do Teatro Amazonas representou um marco na carreira. “Foi em 1993 com o espetáculo ‘Lágrimas de brinquedo’, do projeto ‘Arte e Escola’. Foi um momento muito importante”, afirma.

Sem recordar o ano, Valderes mantém viva, na memória, uma apresentação realizada no bairro Zumbi, Zona Norte de Manaus. “Durante a apresentação da peça, uma chuva começou a cair e ainda assim o público se manteve ali para prestigiar o espetáculo”, diz.

Valderes precisou sair dos bastidores para também trabalhar nos palcos. Fotos: Arquivo Pessoal

Trabalhos no audiovisual

Há pelo menos dez anos, Valderes estreou como ator cinematográfico. Seu primeiro trabalho foi no curta-metragem ‘Sangre’, dirigido por Tony Lee Jr.

Durante uma preparação com o diretor Júnior Rodrigues, Valderes roteirizou e dirigiu ‘Decadência’, em parceria com JPaulino. O filme, de um minuto, participou da Mostra de Cinema da Associação de Mídias Audiovisuais e Cinema do Amazonas (Amacine). “De 250 trabalhos, o nosso foi classificado em quinto lugar. Pra gente foi um prêmio”, recorda, com empolgação.

Valderes Souza também participou do curta-metragem ‘Jamary’, dirigido pelo amazonense Begê Muniz.

Participou, ainda, do longa-metragem ‘AVNI’, de Juan Lopes. Para o artista, participar do filme – gravado e editado pelo celular – foi desafiador. “O desafio de ver um garoto filmar você por telefone, entende?! E quando você vai ver o resultado, é espetacular”, ressalta Valderes.

Série ‘Aruanas’

Na série ‘Aruanas’, produção da Rede Globo, pôde contracenar com a atriz Leandra Leal.

As gravações da série aconteceram no município de Manacapuru, no Amazonas, em 2018.

O ator recorda que o desafio começou já nas audições para a escolha do elenco. “Não foi fácil participar da série, porque eram mais de 300 atores nas audições. Até pessoas de outros estados vieram para tentar conseguir uma vaga no elenco. No final, 50 atores locais foram escolhidos para participar da série global”, relembra.

A preparação do elenco aconteceu no Hotel Tropical, durante três dias. Ao fim do terceiro dia, a produção relevou, aos 50 atores, qual personagem cada um interpretaria na trama.

“Quando chegou no meu nome, a nossa preparadora Amanda disse que eu faria o papel do garimpeiro e ele vai atuar com a Leandra Leal. Todos os colegas aplaudiram. A cena é o único momento que tem uma gracinha, onde a personagem dá um fora no garimpeiro”, destaca Valderes.

Durante as gravações, o artista trocou ideias com Leandra Leal sobre as produções amazonenses no audiovisual e acerca da peça ‘Rival Rebolado’. O espetáculo, que faz parte do gênero do teatro de revista, foi apresentado em Manaus e contou com a participação da atriz.

Valderes Souza e Leandra Leal. Foto: Arquivo Pessoal

Inspirações

O ator, que transita em vários setores da cultura, fala sobre suas inspirações no meio artístico. “Eu sempre fui muito fã dos ‘Trapalhões’. Eu queria imitar eles. Foi minha referência como artista, como comédia e diversão, eu queria trabalhar assim. Mas também tem o José Cunha, que foi um diretor que me encorajou a entrar em cena. E o Cavalcante, que hoje é artista plástico, diretor e ator, e viu meu potencial e me ajudou bastante”, ressalta, afirmando que também é admirador do ator Milton Gonçalves.

Valderes citou outras referências locais, como Wagner Melo, que possui mais de 50 anos de trabalho, a Companhia Vitória Régia e Jordânia Damasceno, sua ex-companheira de vida e de trabalho.

Produções atuais

Atualmente, após o retorno gradual das atividades culturais, o artista tem participado de diversos projetos. Recentemente, ele deu início aos ensaios do espetáculo ‘Brincando no escuro’. A peça, que tem texto de Carlos Antonholi, traz três palhaços brincando no escuro. “É um espetáculo infantil pelo qual estou apaixonado”, destaca o ator.

O artista também está envolvido no monólogo ‘Amém’, de Rui Jobim Neto. O espetáculo adulto está na fase de pré-produção. “Tem muita coisa vindo por aí, tanto para o teatro quanto para o cinema”, afirma.

Após ter sido selecionado em uma audição, Valderes fará uma participação no filme ‘Estratégia da Fome’, do diretor Walter Fernandes. O personagem dele é um viciado em jogos que vai ser furtado por uma criança.

O ator também compõe o elenco da webnovela amazonense ‘Jaraqui com farinha’, de Tony Lee Jr. e Duque Ribeiro. Com um pegada voltada à comédia, a produção estreou na segunda quinzena de agosto e tem novos capítulos disponibilizados no YouTube a cada sexta-feira.

“Trabalho tem bastante, graças a Deus. É manter viva nossa alma de artista”, ressalta Valderes.

Desafios

Apesar de já ter atuado em diferentes frentes artísticas, Valderes sempre encara os novos desafios. Um dos mais recentes é o trabalho com espetáculos de rua. “Lá atrás eu já tinha feito espetáculos de rua, mas agora queria entrar de cabeça nisso”, afirma.

De acordo com o ator, o período pandêmico acabou tirando uma oportunidade única. Ele foi convidado para apresentar um espetáculo de rua de Darcy Figueiredo em Shangai, na China. “Com as restrições para viagens internacionais, nós não viajamos para a China e não pude ter essa experiência”, lamenta.

Com as atividades presenciais suspensas na pandemia e sem poder sair de casa para preservar a saúde dos pais, que são idosos, Valderes teve os trabalhos paralisados por completo. Ele precisou se reinventar.

“Eu não poderia sair, eu trabalhava pela internet vendendo o meu livro, ‘A história do bairro Santo Antônio’. Meus colegas faziam a transferência do dinheiro e isso me ajudou na parte financeira. Foram mais de 50 exemplares vendidos assim”.

Paixão pela arte

Como resultado da vida dedicada à arte, Valderes recebeu uma medalha de honra ao mérito como melhor professor do ‘Jovem Cidadão’. O artista atuou no projeto, já extinto, como instrutor de teatro nos de 2007, 2008 e 2011.

Hoje, ele trabalha como recreador de festas e interpreta o palhaço Furrekka. “Eu me divirto fazendo tudo isso. Obviamente que não faço tudo ao mesmo tempo. Às vezes, consigo dividir meu tempo, mas tenho um período em que faço um trabalho, depois faço outro, mas continuo dentro do processo. Eu não abandono o processo”, finaliza.

Valderes Souza: artista amazonense que transita do circo ao cinema. Fotos: Arquivo Pessoal

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