Com a interdição da praia da Ponta Negra, em Manaus, as oferendas à Yemanjá não puderam ser realizadas no complexo turístico na virada do ano. Mas, os seguidores da divindade africana ganharam um novo espaço na Zona Norte da capital.
O local conta com lago, cachoeira com pequena queda d’água e imagens. As esculturas que compõem o cenário foram criadas pelo artista parintinense Algles Ferreira. “Eu já tinha feito algumas peças para o carnaval, mas essas aqui têm um significado todo diferente, todo especial. A gente, que tem essa descendência indígenas, tem toda essa misticidade ao redor. Fiquei muito feliz de ter participado com a minha arte”, disse o artista. “Até eu estou surpreso com tudo o que foi feito, com o resultado final”, completou.
O terreiro que abriga o local das oferendas possui 1300 metros quadrados e existe há 33 anos. “Era um espaço sagrado, fechado para a Casa de Axé, que nós decidimos abrir”, informou o Alberto Jorge, fundador e mantenedor da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé.

Segundo ele, a própria Associação Cultural Toy Badé foi criada a partir do terreiro. A entidade pretende inserir o local de oferendas no roteiro turístico religioso e mantê-lo como espaço seguro para devoção. “É muito perigoso fazer oferendas em outros locais, como áreas de mata. Corre perigo de assalto, agressão e intolerância religiosa”, destacou o mantenedor.
O novo espaço, que é administrado por Pai Jonathan Azevedo de Sousa, foi criado com recursos da Lei Aldir Blanc após a aprovação de um projeto submetido à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas.

Festival
O 10° Festival Afroamazônico de Yemanjá, tradicionalmente realizado na Ponta Negra, ocorreu pela primeira vez no novo espaço nesta quinta-feira, 31 de dezembro de 2020. A Associação Toy Badé decidiu manter a tradição de promover o evento na virada do ano, mesmo com a possibilidade de realizá-lo somente em 2 de fevereiro, Dia de Yemanjá.
“Neste período de pandemia, é a fé que segura as pessoas”, disse o fundador da entidade, destacando que não houve cobrança para as pessoas que participaram do evento.

O evento foi transmitido pela internet e, conforme Alberto Jorge, a associação seguiu as normas do decreto estadual em vigor e da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Houve verificação de temperatura e do nível de oxigênio. Distribuímos máscaras e respeitamos o distanciamento”, afirmou.
Antes do festival ser organizado por edições, as oferendas já ocorriam na praia da Ponta Negra. Segundo Alberto Jorge, documentos históricos comprovaram manifestações religiosas espontâneas no balneário há pelo menos 60 anos. “Eu lembro que, no dia 31 de dezembro de 1975, assisti um terreiro fazendo a festa na praia, no escuro, só puxando um bico de luz”, contou.

Visitas
O local de oferendas receberá visitas em horário comercial, desde que sejam agendadas por WhatsApp nos números (92) 99161-9342 / (92) 99323-3613.
Os visitantes podem levar oferendas, mas não é permitido o sacrifício de animais no local. “Não interferimos na liturgia de cada um. É um espaço sagrado. Inclusive, as imagens colocadas no local foram consagradas e passaram por um ritual”, ressaltou Alberto Jorge.
A espaço fica localizado na Rua Grandes Rios (antiga Rua 7), número 33, quadra 21, conjunto Renato Souza Pinto 1, Cidade Nova 1, Zona Norte de Manaus.
