Manaus, 16 de abril de 2024

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Foto: Jochen Schöngart/Inpa
Foto: Jochen Schöngart/Inpa Foto: Jochen Schöngart/Inpa

Manaus terá a 7ª cheia mais severa em dez anos, aponta pesquisador do Inpa

Para o cientista, com a pandemia, o fenômeno exige mais atenção.

Com informações da assessoria

Com as chuvas acima da média na Amazônia Central e Ocidental, a previsão é de cheia recorde em Manaus em 2021. Neste ano, a capital terá a sétima cheia mais severa em dez anos, aponta Jochen Schöngart, pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Para o cientista, com a pandemia, o fenômeno exige mais atenção.

A previsão da cheia baseada no modelo elaborado pelo cientista indica que a cota máxima do Rio Negro deve atingir 29,51 metros, em média, com margem de erro de 30 centímetros para cima ou para baixo (29,21 m-29,81 m).

Com a nova marca para a cheia de 2021, este deve ser o sétimo evento de cheias severas nos últimos dez anos (2012, 2013, 2014, 2015, 2017, 2019 e 2021). A previsão de cheia do Inpa reforça a previsão oficial do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) publicada no dia 31 de março de 2021. Os novos alertas de cheias da CPRM estão previstos para 30 de abril e 31 de maio.

De acordo com o Inpa, os estudos e modelos desenvolvidos por Schöngart passaram por revisão e foram transformados no projeto Predicting the Evolution of the Amazon Catchment to Forecast the Level Of Water – Peacflow, em português: Prevendo a evolução da bacia hidrográfica da Amazônia para prever o nível da água), financiado pelo Fundo Newton por meio do programa bilateral Climate Science for Service Partnership (CSSP) Brasil do Met Office (Reino Unido).

A finalidade do Peacflow é apoiar a previsão oficial de enchentes realizada pela CPRM em Manaus no final de março, fornecendo informações adicionais para a implementação efetiva de ações de gestão de risco de desastres.

Casa inundada na região rural de Manaus, durante a cheia de 2009. Foto: Jochen Schöngart/Inpa

Impactos

As cheias extremas resultam em graves problemas de saúde pública, perda de infraestrutura, propriedades e afeta vários setores socioeconômicos, como a agricultura e pecuária nas várzeas. Na avaliação de Schöngart, com a pandemia de Covid-19, a cheia exige mais atenção das autoridades e da população.

“A necessidade de abandonar as moradias alagadas em zonas urbanas e regiões rurais afetadas pode contribuir para um aumento de infecção por SARS-CoV-2 e da variante P.1”, alertou o pesquisador, que é doutor em ciências florestais e vice-coordenador do Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua).

“Uma possível terceira onda da pandemia pode coincidir com a ocorrência da cheia e exige um intenso monitoramento e preparo pelas políticas públicas competentes para mitigar os impactos que podem resultar da sinergia da cheia e do intenso aumento de casos da Covid-19”, completou.

De acordo com o Schongart, o aumento da magnitude e frequência de eventos de cheias severas na região da Amazônia Central durante as últimas três décadas, chamado de ‘intensificação do ciclo hidrológico’, é resultado de uma complexa interação dos grandes oceanos que influenciam por meio do aquecimento e esfriamento das suas águas superficiais grandes circulações atmosféricas influenciando a convecção de nuvens, chuvas e o regime hidrológico dos rios na Bacia Amazônica.

“A intensificação do ciclo hidrológico na maior hidrobacia do mundo é em boa parte influenciada pela variação natural das condições oceanográficas, mas a ciência mostrou evidências da influência antrópica por meio de mudanças climáticas globais na intensificação do ciclo hidrológico”, explicou o pesquisador.

Neste ano, o esfriamento anormal das águas superficiais do Pacífico Equatorial na região central-leste, conhecido como La Niña, contribuiu, junto com as águas superficiais do Atlântico Tropical aquecidas, numa maior convecção de nuvens e chuva em boa parte da bacia Amazônica. O resultado é o expressivo aumento da amplitude a partir do nível mínimo da água registrado no Porto de Manaus (16,60 m), no ano passado.

‘O nível da água de hoje (09/04/2021) já está mais que 11 m acima do nível mínimo da água do ano passado (27,75 m) e ainda vai aumentar até meados de junho. Somente nos anos das três maiores cheias históricas registradas em Manaus em 2012 (29,97 m), seguido de 2009 (29,77 m) e 1953 (29,69 m), o nível da água foi maior nesta data em comparação com 2021″, destacou Schongart.

O pesquisador lembrou que a intensificação do ciclo hidrológico é um grande desafio para as políticas públicas que precisam ser ajustadas à nova realidade. As previsões sazonais de pico de cheias com um longo tempo de antecedência fornecem uma ferramenta confiável para as políticas públicas e os tomadores de decisão para prevenir e mitigar os impactos causados por estes eventos severos nas populações urbanas e rurais e nos setores socioeconômicos. “Isso é de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável da região amazônica, cada vez mais impactada por extremos eventos hidro-climáticos”, disse o cientista.

Peacflow

Com base nos estudos e modelagens, o Inpa propôs durante a IV Oficina Científica Anual do Climate Science for Service Partnership (CSSP) Brasil em Manaus no ano de 2019, a criação de um consórcio de cientistas do Reino Unido (National Centre for Atmospheric Science – NCAS, University of Reading no Reino Unido) e das três unidades de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – Inpa, Inpe e Cemaden –, para desenvolver um sistema de previsão sazonal com longo tempo de antecedência para o nível máximo anual da água do Rio Negro/Solimões em Manaus, Amazônia Central, com potencial para expandi-lo no futuro para outros locais estratégicos na Bacia Amazônica.

De acordo com Schöngart, o novo método inclui o uso de variáveis preditoras, como precipitação, nível de água do rio e condições dos oceanos Pacífico e Atlântico observadas em meses anteriores. Os níveis máximos de água dos rios Negro e Solimões, que geralmente ocorrem no mês de junho, são fortemente influenciados pelas chuvas nas suas extensas cabeceiras durante os meses de novembro a fevereiro, já que a extensa rede de rios e áreas úmidas reduzem a propagação das ondas de inundação por meses.

“Esta defasagem entre as chuvas nas cabeceiras e o pico da cheia na Amazônia Central permite o desenvolvimento de modelos estatísticos capazes de prever, desde março ou antes, a cota máxima da cheia que tipicamente ocorre em junho. A previsão da cheia de 2021 baseada neste novo modelo indica uma cheia atingindo a cota de 29,38 m”, explicou o pesquisador do Inpa.

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