A Companhia Fundo Mundo planeja estar em Manaus em março para participar da primeira edição do festival de circo ‘Lona Aberta’. O grupo circense, formado por pessoas transgêneros, travestis e não-binárias, debate e produz conteúdo direcionado à comunidade LGBTQ+.
Criada em 2017, em Florianópolis, a companhia tem como carro-chefe o espetáculo ‘Sui Generis’.
“Esse espetáculo marca o início de nossa reunião, portanto tem também um valor afetivo bem grande. Nele, abordamos temáticas de gênero e sexualidade de uma maneira ácida e provocativa, carregada de humor. Tem palhaçaria, acrobacias aéreas, malabarismo, bambolê, música e poesia. É um convite para bagunçarmos as nossas referências do imaginário comum”, explica Lui Castanho, um dos integrantes do grupo.

Desafios
No mês da Visibilidade Trans no Brasil, criado pelo Ministério da Saúde em 2004, para ampliar a visibilidade de toda a comunidade travesti e transexual, falar sobre o tema é necessário. No entanto, Lui Castanho ressalta que há diferença entre a representação e a representatividade de fato.
“Quando se fala sobre representatividade trans no Circo – e nas artes, de uma maneira mais ampla – se fala efetivamente sobre a presença de pessoas trans nesse meio. Já a representação é a ideia que se faz sobre aquela comunidade e como se apresenta isso ao público. No Circo, apesar de ainda existirem poucos espaços que trabalham ativamente para garantir a presença de pessoas trans, não significa que a transgeneridade não seja representada. Na verdade, têm sido feitas inúmeras representações sobre pessoas trans há séculos. Na grande maioria, são representações estereotipadas e pejorativas, feitas por pessoas cisgêneras”, diz.

Formação e debate
Por meio de suas apresentações e pelas redes sociais, a companhia procura manter o diálogo aberto com o público.
“Nosso objetivo é debater, trazer o diálogo à tona e, principalmente, oferecer um trabalho que nossa comunidade goste de assistir. Em outras palavras, não se trata de falar pelas pessoas trans, mas para as pessoas trans. E as pessoas que não são trans também têm muito a aproveitar em nosso trabalho”, afirma Lui.
Primeira vez no Norte
O festival de circo ‘Lona Aberta’ será o primeiro evento profissional do grupo na região Norte do país. Além do espetáculo, a companhia vai ministrar uma oficina sobre a pesquisa realizada pelo grupo e debaterá temas pertinentes à transgeneridade e ao circo.
“Para nós, é de extrema importância circular por diferentes regiões, especialmente aquelas que saem do eixo Sudeste/Sul. Nosso intuito é poder trocar, ampliar o diálogo e acreditamos que será uma experiência incrível”, destaca Lui.
Realizado pela Cacompanhia de Artes Cênicas, o Festival Lona Aberta está com inscrições abertas até o dia 3 de fevereiro, para artistas de todo o Brasil.

O festival contará com atrações como o palhaço Tomate, de Buenos Aires, Argentina; a companhia Nós no Bambu, de Brasília; a cineasta e palhaça Mariana Gabriel, neta da primeira palhaça negra do Brasil; a Cia. Fundo Mundo, formada exclusivamente por pessoas transgêneras, travestis e não-binárias; o Circo di SóLadies, formado por palhaças que pesquisam a linguagem cômica na cena teatral; e a artista Jayne Kira, que realiza um trabalho com tecido acrobático em Manaus.
O projeto foi contemplado no edital Prêmio Feliciano Lana, que faz parte das ações emergenciais da Lei nº 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc, operacionalizada no Estado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.
Para participar, basta acessar o site www.cacompanhia.com, ler o regulamento e preencher um formulário de cadastro, com informações sobre o número que deseja apresentar, portfólio, breve currículo, fotos e link para o vídeo na íntegra, ficha técnica e uma descrição da proposta para análise da curadoria. O resultado será divulgado no dia 7 de fevereiro.